Sobre Monóico e Todas as Formas de Amor

Recentemente, em pleno 2017, um Juiz Federal do DF, acatando a solicitação de um grupo de psicólogos- liderados por uma controversa psicóloga já anteriormente punida pelo Conselho Nacional de Psicologia por oferecer “tratamento de reversão (???) sexual – liberou uma liminar que permite que esse tipo de terapia seja feita por profissionais sem que estes sofram sanções disciplinares por parte do Conselho da Classe.

Ora, desde 1990 que OMS deixou de considerar a homossexualidade como doença passível de tratamento. E desde 1999 o Conselho Regional de Psicologia proíbe este tipo de terapia de reversão de orientação sexual… Não se trabalha uma “cura” para algo que não é doença. Orientação sexual é algo inerente e intrínseco ao ser humano. Se o terapeuta oferece cura isso é charlatanismo. Os psicólogos sérios assim defendem…

A função do terapeuta não é forçar uma condição, o terapeuta não pode reafirmar uma não aceitação no individuo. Este tipo de “tratamento” é uma violência e abre precedentes para culpa, sentimentos de rejeição, suicídio… A função da terapia é ajudar quem procura auxilio em conviver saudavelmente com sua orientação.

Esta coisa de permissão de terapia para reversão da sexualidade é só um das situações que vem acontecendo no país numa onda crescente de conservadorismo exacerbado, pré-conceitos, censuras e intolerância.

Neste contexto atual qualquer obra que aborde temas envolvendo sexualidade tem tomado um caminho desvirtuado como se sexo ainda fosse um tabu.

Estamos involuindo?

Há uma patrulha sobre a sexualidade alheia. Sobre a orientação sexual do próximo. Em menores doses vemos a homofobia cotidiana presente no preconceito e na discriminação. Em inaceitáveis proporções vemos a homofobia feroz que leva ao crime e á perseguição aos gays, trans, bissexuais ou qualquer um que fuja ao “padrão da sexualidade estabelecida”.

A sexualidade é algo individual e como já disse Nando Reis na letra de Monóico “Mas você à quem pertence? Você pertence à você!” E você divide com quem quiser seu prazer. Até com você mesmo…

A propósito Monóico é uma grande canção… Lançada há uma década ( Disco Sim e Não de 2006) causou um certo impacto por quase explicitamente, mas de forma muito poética e inteligente, cantar as nuances de encontros sexuais/amorosos, revertendo papéis e minimizando a importância de definições de homem/mulher…

Nos versos Nando se concentra na apologia ao prazer liberto de preconceitos entre pessoas que se fundem e confundem sem delimitar o feminino e o masculino… Podemos ser masculino E feminino… Por que não?

Dez anos depois, no contexto atual no qual estamos vivendo – parece que tá havendo uma regressão – é o tipo de obra que ainda causaria infundada agressiva polêmica…

A polêmica e a discussão podem ser estabelecidas, claro. Estamos numa democracia. Mas há de existir também uma reflexão e respeito sobre opiniões que divergem da sua.

Um dos papéis da Arte é suscitar uma ampliação no pensamento.

Nando, na época, falou que ‘Monóico’ é uma espécie de manifesto no disco, feita para ser controversa mesmo. A função do artista também é nos fazer refletir sobre o peso pecaminoso que damos a coisas naturais: prazer, sexualidade, nudez, orientação sexual, tipos de amor…
E nisso Monóico pode quebrar alguns paradigmas.

Texto: ANA DUARTE

Mais curiosidades trazidas pelo fã clube…

1. O primeiro verso original, em vez de “raspe meu sal como um animal” era “chupe meu pau como um animal”. Nando mudou alguns de seus trechos por achar explícito demais e que, com isso, poderia ofuscar o que havia de mais interessante na música
2. Monóico são plantas que têm os dois sexos juntos.
3. O encarte do disco ‘Sim e Não’, em que a faixa foi lançada, trata sobre a semelhança entre os órgãos reprodutores das flores e animais.
4. ‘Monóico’ é uma das músicas mais queridas pelos fãs de Nando, tendo ganhado várias vezes a votação de qual canção o ruivo deveria apresentar em seu show.

PS: Gostou do texto e quer que a gente escreva sobre outras músicas de Nando? Diga qual nos comentários deste post!

Ouça Monóico:

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2 comentários em “Sobre Monóico e Todas as Formas de Amor”

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