Fã Clube – Antes de tudo, nós do Fã clube Nando Reis, gostaríamos de agradecer demais pela oportunidade de entrevista! É uma grande honra, de coração mesmo! As perguntas foram feitas por membros do site e fãs de seu trabalho.
Carlos Pontual – Eu que agradeço!
Fã Clube – Você lançou recentemente seu terceiro trabalho solo intitulado “Inventa qualquer coisa” que é o nome da primeira música do disco. Gostariamos de saber como surgiu esta canção. Foi uma situação real?
Carlos Pontual – Não. Na minha opinião, há uma supervalorização dessa história de “ser baseado em fatos reais”, como se isso fosse influenciar na qualidade da obra. Para mim, isso é apenas um detalhe de making of. Essa canção foi feita como ficção, mas pensando em uma situação que todos conhecem.
Fã Clube – Os Infernais também participam do seu CD. Como é pra você essa parceria e amizade?
Carlos Pontual – São músicos e pessoas em quem eu confio e gosto e essa familiaridade facilita muito no estúdio. O Cambraia até me deu uma mãozinha na produção no início da parada. Não é com qualquer músico que podemos gravar sem ensaio.
Fã Clube – Embora os seus três trabalhos solo tenham conceitos claramente distintos, há um aspecto comum entre eles que é a diversidade de estilos existente dentro de um mesmo álbum. Diante de tal habilidade, em seu processo de composição, você costuma pensar na música como unidade, sem contextualizá-la, e a escolha do repertório do CD ocorre posteriormente, ou no momento da composição você já consegue delinear a concepção de um novo álbum?
Carlos Pontual – Cada caso é um caso. Mas sempre produzo mais do que lanço e sempre em várias frentes. No Miolo do Som, por exemplo, juntei o repertório de uma banda instrumental que eu tinha com Edu Krieger e Fernando Jacutinga, o Caldo Grosso, com um repertório de canções e com um lado mais experimental. O disco tem esse conceito de estações de rádio com programações diferentes.
No Instrumental Social, uma mudança foi essencial: um estúdio em casa. Em vários casos, a composição, o arranjo e a produção eram ao mesmo tempo, em uma espécie de “exercício de home studio”. A outra parte foi mais live jazz,com partes escritas e um quarteto ao vivo. De repente eu me toquei: “-Opa! Acho que já tenho um disco!”. Eu já estava fazendo e nem sabia.
No Inventa Qualquer Coisa, houve um conceito de um disco de canções, onde destaco a minha tomada de controle sobre o meu texto e a melhoria na qualidade de som. O disco foi mixado em uma mesa analógica, SSL, que fez uma grande diferença. A variedade de ritmos e estilos é muito mais comum hoje em dia. Meu objetivo é ter uma assinatura marcante em qualquer situação. O disco tem 3 partes.
Fã Clube – Sempre se comenta da universalidade da música instrumental, justamente pela inexistência de barreiras idiomáticas. Outro fator que contribui para a divulgação da música além das fronteiras é a internet. Prova disso foi a indicação do “Instrumental social” no Financial Times em 2008. Como foi o processo de indicação, ou seja, como eles conheceram o seu trabalho? Você enxerga uma diferenciação na aceitação da música instrumental no Brasil, e em outros grandes centros mundo a fora?
Carlos Pontual – A internet é revolucionária, foi através dela que conheci a Curve Music, que lançou esse disco no exterior. Foi através deles esse contato com o FT. Foi incrível. Mas este ano me desliguei deste selo, por que esta foi a única coisa que me arrumaram…
Não sou muito ligado a bandeiras. Adoro Jazz,mas não consigo nem quero me enquadrar em uma categoria. Talvez até devesse, mas estaria sendo desonesto comigo mesmo.
Mas é fato que há países nos quais se consegue viver de música instrumental, ou alternativa, ou qualquer estilo que você imaginar!
Fã Clube – Nos anos 90, você era baixista na banda que acompanhava o trompetista Barrosinho. Você considera que isso foi um fator determinante em sua carreira, no que diz respeito a sua habilidade em fazer músicas instrumentais, ou essa vontade antecede à essa época? Aliado a isso, você considera que o fato de ser multi-instrumentista contribui para o desenvolvimento de suas composições instrumentais?
Carlos Pontual – Tocar com o Barrosinho foi muito importante no meu desenvolvimento como músico e também de uma postura meio “Lone Ranger”, de se procurar estar sempre pronto para novos desafios: aprendendo, estudando, trocando experiências. Por outro lado, aprendi também que nem sempre podemos ser inflexíveis em nossas posturas profissionais.
Eu já fazia música instrumental – assim como canções- antes de tocar com ele.
Sobre a relação entre ser multi-intrumentista e compor jazz, não acho que haja, pelo menos quanto a mim. Acabo compondo a maior parte no violão mesmo. Acho que influencia mais nos arranjos e produção, na hora de “embalar” a música. É claro, que volta e meia surgem ideias em outros instrumentos, mas isso não necessariamente vai render uma música instrumental. I might have something to say, por exemplo, começou no baixo. Algumas Lembranças eu fiz no teclado. Mas não adianta, a maioria das minhas músicas eu faço no violão mesmo: um Di Giorgio n.18 Nylon, velho de guerra.
Fã Clube – Em uma entrevista, você mencionou que você já tem outros dois CDs prontos para mixar. Até que ponto você acredita que a possibilidade de acesso às musicas por outros meios, tal como a internet, prejudica a compreensão do público sobre o que é a obra do artista de forma completa, no modo com um álbum é concebido, pois as músicas acabam sendo consumidas individualmente, e não exatamente na forma pretendida e idealizada pelo músico?
Carlos Pontual – Fui criado e me desenvolvi na época do álbum e penso assim. Mas isso é apenas uma bolha de aproximadamente 60 anos dentro das centenas de milhares de anos de música que precedem essa época e a sucederão. Hoje em dia o tempo de concentração é menor e a quantidade de informação é maior. Não vejo como uma coisa ruim, a história é um rio que não para de correr. E, querendo ou não, estamos nele.
Fã Clube – Atualmente, além de seu trabalho como guitarrista da banda que acompanha Nando Reis, e do lançamento do seu novo disco solo, você tem outro projeto que é o “Desvio de Septo”. Qual é exatamente o conceito desse projeto? Podemos esperar mais um novo álbum?
Carlos Pontual – Esse é um projeto experimental com Paulo Vivacqua e Fernando Jacutinga que envolve manipulação de ruído e improvisação. Atacamos de surpresa, vamos ver.
Fã Clube – Você é guitarrista e Produtor do Nando Reis e Os Infernais, e também produtor de seus próprios CD’s. Você faz esse trabalho com outras bandas?
Carlos Pontual – Fiz muito trabalho com artistas independentes e underground de vários estilos. Gosto de produzir e espero fazer mais isso.
Fã Clube – Como e quando você começou a tocar guitarra?
Carlos Pontual – Comecei violão com 13 e guitarra com 15. Como? Com professores e discos.
Fã Clube – Como começou a tocar com Nando?
Carlos Pontual – Através de uma indicação do meu amigo e colega de faculdade Walter Villaça, que havia gravado o disco “Para Quando o arco-íris…” e não poderia fazer a turnês por estar na banda da Cássia Eller.
Fã Clube – Quais suas influências na hora de compor?
Carlos Pontual – Nossa, são tantas… mas em matéria de letra, gosto de letras de samba antigo. Texto seco e sem gorduras. Quanto às harmonias e melodias e grooves, a lista é interminável.
Mas gosto de batidas marcantes, alguma surpresa na harmonia e uma melodia que tenha algo simples que possa ser lembrado.
Fã Clube – O que você achou do site fcnandoreis que é voltado para o Nando Reis e os Infernais?
Carlos Pontual – Muito bom, sou muito grato a vocês.