Crítica de ‘Sei’: Música original, visceral e bela

A primeira imagem que salta de “Sei” — nos primeiros verso da primeira música, “Pré-sal” — é “Espadas de São Jorge sempre em guarda vigiam/ Inhames majestosos, negros caules que brilham”. Já carrega em si, portanto, o misto de originalidade, beleza simples e intimidade visceral que marca a música de Nando Reis. É a partir dela que a canção desfia memórias primordiais do compositor em cenas profundamente pessoais, muitas vezes cifradas, mas fortes — e potencializadas pelo vigor afiado dos Infernais e pela produção de Jack Endino.

Mas a teia personalíssima de “Pré-sal” inclui citações a Dalva de Oliveira e Mamonas Assassinas — apenas duas das referências ao cancioneiro brasileiro espalhadas no disco, disfarçadas ou não. É nesse terreno, na fronteira entre a experiência única e a universalidade da canção que “Sei” cresce mais bonito.

“Back in Vânia” remete em sua estrutura e título a “Back in Bahia”, de Gilberto Gil, e cita “Se oriente”, do mesmo compositor. Da mesma forma, “Coração vago” ecoa, no nome, “Coração vagabundo” (Caetano Veloso) e “Eu e a bispa”, “Eu e a brisa” (Johnny Alf); “O que eu só vejo em você” cita verso de “Tempos modernos” (Lulu Santos).

Nando se vincula, assim, a um caminho que já é o seu: o de compositor popular que transforma suas dores e prazeres em versos carregados da verdade, sejam simples como “Eu te amo” (há variações mil no álbum) ou codificados quase que só para si.

Vestindo as canções, há o peso que se espera de Endino. Mas, em suas 15 faixas (muitas, pois a saída de músicas como “Persxpectiva” e “Ternura e afeto” não traria prejuízo), “Sei” passa bem por searas como o romantismo Odair/Roberto, suingue stoniano, reggae ruivo, balada rock épica (“Pra quem não vem”, com voz de Marisa Monte).

Das memórias de infância às referências à família, à cocaína, ao “mesmo sexo”, aos Titãs (“Entrei para as paradas com meus oito amigos/ Entrei saí cheguei parti chorei sorri amei sofri matei morri”), aos amores, o exercício de autoexposição de Nando tem na canção a recompensa. Para quem ouve, é boa paga.

Fonte: Globo.com

6 comentários em “Crítica de ‘Sei’: Música original, visceral e bela”

  1. Nunca tive dúvidas da capacidade do meu ídolo, cada vez mais encantada com o Nando. O cara é inteligente demais. Amo!

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