NANDO REIS – REVISTA STATUS

1941aA barba do ruivão está ficando branca. O músico acaba de completar 50 anos e, pela primeira vez na carreira, está solo de verdade. Após um intervalo de  três anos sem gravar músicas inéditas, José Fernando Gomes dos Reis, ou simplesmente Nando Reis, lançou o CD independente Sei, disco que escreveu, produziu e que só pode ser comprado diretamente em seu site. Os 20 mil CDs prensados estão na casa em que Nando mora, sozinho, a alguns passos do estádio do Pacaembu, onde ele recebeu a Status para uma entrevista. O preço do CD oscila de acordo com a procura. A cada semana, o valor cobrado é a média das ofertas feitas por todos os interessados. “Estou muito mais feliz assim. Como não sou um grande vendedor de discos, para mim não fez grande diferença. Ter uma gravadora não altera o meu placar”, diz ele.

Nando é um dos dez compositores que mais arrecadaram direitos autorais no País em 2012. Divide a liderança com Roberto Carlos, Adele, Sorocaba e Thiaguinho. Mas quem o vê nessa lista não imagina como é difícil para ele se manter nessa posição de fazedor de hits. “Essa maneira como as pessoas me veem me envaidece, porque as músicas que eu faço agradam e fazem sucesso. Mas esse não é o meu objetivo”, diz ele. “Para manter a qualidade daquilo que faço, preciso de fato criar uma barreira, que é distintiva entre aquilo que eu sou e aquilo que eu significo. Eu não sou o Nando Reis. Eu não hajo como Nando Reis. Eu não acordo como Nando Reis. Eu assino como Nando Reis porque isso é uma formalidade. No dia em que eu fizer música como Nando Reis, estou fodido.”

Pai de uma prole de cinco, idades variando de 6 a 26 anos, o músico reatou recentemente com Vânia, psicóloga e mãe de quatro dos seus filhos. Tinha ficado com ela por 20 anos antes da separação, há quase dez. No meio tempo, teve um filho com uma namorada do Sul. “Sou um homem avesso ao casamento. E a única pessoa que entende esse avesso e faz dele algo positivo é a minha mulher, a Vânia. Dela eu gosto de ser marido”, diz ele.

CONFIRA A ENTREVISTA ABAIXO:

Status: – Você é um letrista de mão cheia, responsável por alguns dos maiores hits dos últimos tempos. Quando você lê ou ouve alguém falar isso de você, o que passa pela sua cabeça?
Nando Reis: – Essa maneira como as pessoas me veem, não sem razão, de certa maneira me envaidece, porque as músicas fazem sucesso, tocam as pessoas. Mas esse não é o meu ofício, não é o meu objetivo. Eu prefiro, nesse ponto, ser extremamente individualista e excessivamente vaidoso: eu só quero me agradar. Esse é o único parâmetro confiável que tenho. E para que esse parâmetro não fique contaminado por um monte de variáveis que estão presentes no meu trabalho, eu preciso de fato criar uma barreira, que é distintiva entre aquilo que eu sou e aquilo que eu significo.

Status: – Quem é você então?
Nando Reis: – Eu não sou o Nando Reis. Juridicamente ou civilmente eu sou José Fernando Gomes dos Reis. Para os meus filhos eu sou o papai. Para os meus familiares eu sou o Nando. Para alguns antigos amigos o Nando Ruivo. Nando Reis é quase uma marca fantasia. Eu não hajo como Nando Reis. Eu não acordo como Nando Reis.

Status: – Mas você se sente preso a essa figura de Nando Reis?
Nando Reis: – Eu não quero misturar. Quero o isolamento total. A única forma que me agrada, que sustenta meu interesse, que dá sentido a subir no palco é ignorar totalmente que sou um sujeito tímido e pouco sociável. Existe muito esforço. E uma parte daquilo que minha profissão exige e que eu aprendi com o tempo e desempenho com razoável habilidade é esse lugar. Eu assino como Nando Reis porque isso é uma formalidade. No dia em que eu fizer música como Nando Reis, estou fodido.

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